Minha vida, dás um jeitinho para a menina?...

Hoje acordei e pus-me a pensar em ti. É um hábito que estou a ganhar com esta nova paixão. Gostava de te dizer que não vens preencher nenhum vazio na minha vida. Porque na minha vida não havia vazios para preencher. Toda ela era cheia. Cheia de amor, de amigos, de emoções, de gostos, de trabalho, de convicções, de prazer… É nesta vida que eu te vou encaixar. Com um “dás um jeitinho?” ao trabalho, às paixões, aos amigos e às emoções. Arranjo espaço para te encaixar na minha vida. Penso em como será o nosso encontro. Como será o nosso amor. Imagino-nos nos primeiros tempos, juntos, com o pai, no primeiro mês, a descansar do nascimento, a alimentarmo-nos, a ganhar forças, numa casa bem aquecida… Será um namoro de cuidados e carinhos. Muito leitinho da mãe, banhinhos suaves, tutus bem limpos, cama quentinha e, nos dias de sol, pequenos passeios a ver o mundo a partir do jardim cá de casa. Veremos as primeiras flores da primavera, os narcisos e os lírios que estarão floridos quando tu nasceres. Depois virão aquelas flores vermelhas as quais chamam “olhos de gato” e aquelas flores brancas às quais chamam flores da amizade. São flores que renasceram sozinhas neste quintal, semeadas pela Fatinha há uns anos atrás. E depois virão as árvores das flores, do pessegueiro, da amendoeira… Ou será antes?... Tens também uma magnólia e uma azálea de flores brancas… E tens muitas flores que eu não me lembro, porque um jardim e uma mãe esquecida resultam nisto, todos os anos me espantar com as flores a florir por já não me lembrar que elas estavam ali! À medida que fores crescendo, naqueles seis meses em que estarei sempre contigo, iremos começar a passear todas as tardes. Vamos descer a rua e ver o rio, ouvirás os sons do Verão, da praia cheia de gente a chapinar na água. Iremos ver árvores grandes ao jardim da Lavandeira e eu vou-te falar sobre o buraco negro que ele era na minha infância, espaço secreto, fechado à comunidade que ao lado dele vivia. Mas sobre isto tu não vais perceber nada.
Depois desse espaço que arranjarei para ti, que no início será todo teu, serás tu a dar-me espaço e eu a dar-te espaço para tu cresceres. Assim que puder voltarei para o jardim e tu serás promovida a jardineira assessora. Se tu quiseres, nos dias de chuva, e quando já tiveres pulmões para isso iremos entrar na câmara mágica da fotografia. Um laboratório de alquimia onde faremos aparecer imagens de uma folha branca. Crescerás a ouvir os sons da guitarra do pai e talvez te interesses por mexer nas cordas que dão música. Temos muitas histórias para te contar antes de tu adormeceres. Para onde formos tu irás. Vais conhecer tanta gente que vem cá a casa! Tu vais gostar. São todos diferentes.
É assim que eu imagino que seja.

Comentários

Susana Rodrigues disse…
E se for assim, é lindo. :)
Major Tom disse…
Eu queria desnascer e voltar a crescer assim, mas como não dá, cá estarei para fazer parte do cenário ;)
Anónimo disse…
A tua bébé vai amar ter uma mãe contadora de histórias...
e vai amar, um dia, saber que faz parte de um diário onde se cruzam os cheiros, os sons, as cores, as pedras, as flores, as árvores, o vento e tantas outras coisas que fazem a nossa vida parecer tão grande...
Venus as a boy disse…
Fiquei arrepiado e emocionado!
oplanetadaju disse…
É possível que seja a terceira ou a quarta vz que leio este texto! É abolutamente encantador!:) Estou ansiosa por conhecer a menina! :) Estou ansiosa que tenha tamanho para as "confusões do sofá". :)

Mensagens populares