Hoje sonhei com um pássaro cor de pérola

Hoje sonhei com um pássaro cor de pérola. Era grande e redondo e voava de ramo em ramo comendo bolotas e depois uma espécie de frutos de papel, transparentes, cor de pérola. O céu por trás era também ele cor de pérola. Mas para além da cor tudo tinha a sua forma, textura e volume próprios. Apenas a cor, o brilho e a transparência criavam unidade nesta fotografia. Fiquei a observá-lo até que ele se deixou cair aos meus pés. Tive medo e vi o meu irmão fazer barulho, atirei-lhe com qualquer coisa para ele se calar mas já era tarde, o pássaro tinha saltado para o meu colo e estava agarrado a mim. Acordei com o coração disparado.
E comecei a pensar nas mudanças da minha vida. Tenho-me despedido lentamente do trabalho e dos colegas, sem grandes rupturas. Ontem senti uma despedida maior embora não me tenha despedido de ninguém. Sinto-me sem forças para aguentar o ritmo de trabalho, sem energias nem vontade para gerir o stress das solicitações contínuas que me fazem naquele lugar quando apenas dei lá uma escapadela para tentar deixar algumas coisas em ordem. Doem-me vários sítios do corpo, custa-me andar, baixar-me, estar sentada muito tempo. Sinto-me limitada, tenho de pedir favores a toda a hora. Sei que está na hora de abrandar o ritmo e fiquei aliviada com o facto de ficar de baixa mas algo se rompe neste momento. Nada voltará a ser como antes e as despedidas custam-me sempre. Para além do stress, naquele local há alegria, riso, carinho, gente boa e simpática, bons colegas e amigos. E uma rotina que faço há já sete anos…
Também há pessoas mesquinhas e limitadas de quem não gosto. Às quais me apetecia dizer em jeito de despedida: Já te disse que não gosto nadinha de ti?...
Mas não. Nos últimos meses a minha palavra Norte é serenidade. Perdi o meu não duro, firme, seguro e, nos últimos meses, já aderi a mais cartões do que em toda a minha vida, deixando-me seduzir por todo o tipo de vendedores. O não deu lugar ao sim. Sim, sim, sim a tudo. Não quero mas sim, não me apetece mas sim. Sim porque sim. Porque o sim não me chateia, porque o sim é suave e doce e simpático. Porque eu não quero saber de mais nada para além da minha menina que trago dentro deste aquário-viveiro que é o meu corpo.
Do meu corpo estragado, tão cheio de pequenas maleitas que poderia fazer uma nova versão daquela música (que me tem acompanhado) do “Música no coração” dedicada não a todas as coisas que eu gosto mas sim a todas as coisas que me doem.
O meu corpo e o meu espírito agora programados para essa função primária que é a procriação. O meu corpo emprestado à sobrevivência da espécie.
E agora riam-se, a parte cómica. Se eu fosse outra pessoa não contava isto mas vou contar. Estava eu a ler as últimas linhas do livro do Carlos Gonzalez - Um regalo para toda la vida - e ocorreu-me que talvez eu possa não ter leite para amamentar a minha cria. E eu gostava mesmo de a amamentar. Mas custa-me a crer que destas mamas saia alimento para criar alguém… Uma das últimas coisas a que o autor faz referência a é sobre a possibilidade de amamentar filhos adoptivos. Por incrível que pareça é tão verdade que a produção de leite dependa do estímulo provocado pela sucção que até uma mulher que não esteve grávida pode conseguir amamentar uma criança que comece a mamar nas sua mamas e a estimular a produção de leite! Incrível não é?
Depois ocorreu-me que se a tia Renata estiver cá quando a criança nascer e se eu não conseguir amamentar talvez ela possa dar de mamar algumas vezes à bebé para ela aprender a mamar… (A tia Renata era bem capaz disso!)
E depois tive uma ideia estapafúrdia. E se eu experimentasse o saca leite eléctrico que a Renata me emprestou para ver se já sai alguma coisa?!... (Riam-se, vá, riam-se suas bestas, imaginando a minha figura…) E assim fiz. Colei o saca-leite à mama esquerda cuja potência estava, sem que eu tivesse reparado, no máximo e aquela coisa começou a puxar o mamilo e a soltá-lo, tal qual uma boca de criança invisível, e imediatamente saíram pela minha mama, (imaginem, como é isto possível!) umas gotas de líquido transparente mas leitoso a que se dá o nome de colostro! Querida quando quiseres nasce que, ao que parece, vais ter alimento!
E assim me desatei a rir e compus muito o meu dia que tinha começado com uma madrugada tão triste!
P.S. Querida leitora não tente fazer isso em sua casa! Ao que parece pode provocar o trabalho de parto(!)

Comentários

Ana disse…
Confesso que tenho medo de entrar de baixa: quero trabalhar até à véspera do parto para não ter tempo de pensar! Simplifica bastante... :)
Eugrávida disse…
Mas pensa também se não será bom ganhar muitas forças para os tempos que se aproximam...
Venus as a boy disse…
:) Gostava de ter visto!
Anónimo disse…
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